Ao ar livre ou dentro dos terreiros, o tambor de crioula não tem um local especifico nem uma data fixa para acontecer e sua prática se dá especialmente em louvor a São Benedito. Entre as diversas narrativas a respeito dessa manifestação, uma delas fala que São Benedito foi um escravo que foi a mata buscar troncos e ensinou a todos os outros negros como confeccionar e tocar o tambor. Há ainda uma segunda versão onde falam que ele era um cozinheiro do monastério que levava comida em suas vestes para os pobres.
Existe uma ligação histórica cultural muito forte entre o tambor de crioula e a manifestação afro-religiosa tambor de mina. Essa ligação se dá por dois motivos, pelo fato do tambor de crioula ter sido difundido pelos terreiros de mina, e pelo sincretismo religioso existente entre São Benedito e o Vodun Vereketi, divindade da mitologia fun cultuada em mina. Embora haja uma ligação entre as duas manifestações, vale ressaltar que o tambor de crioula não tem cunho religioso e que São Benedito e Vereketi são divindades diferentes com características e cultos próprios.
Uma roda de tambor é composta sempre por um conjunto de três tambores chamado parelha. São eles: tambor grande ou rufador, meião ou socador e crivador ou perenga. O meião é o tambor que sempre inicia os toques, possui um ritmo que deve ser muito bem marcado e definido. Seguindo o meião, vem o som do crivador agudo e repicado no contratempo. Por ultimo entra o tambor grande, o tambor da virada e dos improvisos marcando a punga. O crivador e o meião são tocados com o tocador sentado em cima dos tambores e o tambor grande é tocado entre as pernas do tocador preso por uma corda na cintura. Junto com os tambores é utilizada também a matraca, dois pedaços de madeira batidos no corpo do tambor grande.
A parelha de tambor de crioula pode ser confeccionada de duas maneiras, com a madeira tirada do mangue do "Burdãozeiro", do "Soró", da "Fava", ou da "Siriba" brocada e queimada por dentro ou com PVC. O tambor de PVC tem a sua confecção mais prática, sendo um tambor mais leve do que o de madeira e menos custoso. Sua utilização aumentou muito nos últimos anos devido a proibição da retirada da madeira em áreas de proteção ambiental, porém a qualidade do seu som é inferior a do tambor de madeira e os mais tradicionais não os consideram original. Para encorar o tambor é necessário colocar ele de molho de um dia para o outro para que ele fique bem molinho. O couro utilizado pode ser de boi ou de veado, sendo o de boi de uso mais comum.
O fogo no tambor de crioula é elemento fundamental, ele tem a função de "quentar" o coro dos tambores para atingir a afinação ideal para o toque. Normalmente acende-se uma fogueira ao lado do local onde vai acontecer a roda antes da mesma começar É das chamas que os tambores recebem energia para rufar com mais força e mais beleza.
Christiane Mota em "Ligações" descreve a relação do tambor de crioula como uma dança sensual e envolvente através da distribuição de seus elementos cênicos. Primeiro observando os tambores, como por exemplo o tambor grande, que fica fixado entre as pernas do tocador representando a virilidade e a fecundidade masculina. Do outro lado o bailado das coreiras e a forma de dançar em frente a parelha sugerindo a punga, gesto ancestral que remete a fertilidade e fecundidade feminina.
As musicas cantadas no tambor de crioula são chamadas de toadas, nelas geralmente são contadas historias e lembranças através de cantos improvisados muitas vezes em forma de linguagem cifrada que simbolizam a manifestação. Geralmente as toadas são cantos de devoção aos santos, coisas do cotidiano e de entrada e de saída. As cantigas improvisadas e rimadas funcionam como uma espécie de competição para quem consegue as melhores rimas.
O tambor de crioula é uma das manifestações mais influentes na identidade do povo maranhense, em 2007 foi tombado pelo IPHAN como patrimônio imaterial brasileiro e inscrito no Livro das Formas de Expressão.
Ê COREIRA!
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